Eu fico impressionado. Se tem algo que me faz escrever, é quando eu fico muito indignado. O sofrimento é algo que nos toca, nos deixa vulneráveis. Quem nunca sofreu que atire a primeira pedra. Até os mais poderosos sofrem, sim, aqueles que parecem ser intocáveis. No entanto, o motivo de eu estar aqui escrevendo não é o sofrimento em si. Mas como lidamos com ele e como ele se mostra a nós. Sendo bastante objetivo, vou esparramar um pouco do que os comerciantes têm vendido no templo; estou bastante intolerante com muitas coisas ultimamente.
Estava navegando por uma rede-social da internet, que reativei recentemente - considero imensamente desativar, pois certas coisas me enojam, mas isso é tema pra outro texto -, e me deparei com uma imagem semelhante à acima, com uma descrição do tipo "e o seu problema?", ou "você diz que tem problemas?", ou algo banal desse tipo. Isso me irritou profundamente. Graças a Deus, o sol ainda não se pôs, tenho tempo.
Por que me irritou? Por quê?! Há um tempo atrás eu costumava consolar meus pecados e sofrimento em alguém mais desgraçado que eu. Por exemplo, se me sentia pecador, lembrava que havia outros piores que eu; se sofredor, lembrava que outros sofriam ainda mais. Durante um bom tempo, essa fórmula funciona, mas chega um momento em que, como um copo de cristal se quebra facilmente e tem seu valor, tudo vai por água abaixo. E eu me dei conta de algo. Não adianta olhar para os outros e tentar remediar, dessa forma, o meu próprio sofrimento, minhas próprias transgressões. Além disso, passei a enxergar as coisas com o ponto de vista certo, e pensei comigo mesmo: "Mas que diabos estou fazendo?!". Foi então que descobri a maldade do meu coração e a falta de senso moral, ético, ou como queira chamar, que havia em mim. E hoje, quando sinto que outros agem da mesma forma, me irrito. Talvez seja errado, talvez... Poderia ser mais compreensivo, sim. Mas, infelizmente, acabo por me irritar e, pior, trato de ficar bastante decepcionado com quem age dessa forma. Bom, assim como eu um dia fui insensato, espero que essas pessoas se deem conta de seu erro e entrem no meu time.
Cheguei até aqui e não deixei exatamente claro o que quero dizer. Sei disso. Mas agora vou lhes explicar. Vamos ter que criar uma estória para tal. Imagine-se morando em um país africano - vamos usar a África, mas eu nem mesmo sei se essas crianças estão lá, nunca fui, e acho que podemos ser midiatizados se afirmarmos isso, sabendo que pessoas, sejam crianças ou adultos, morrem todos os dias na nossa rua -, onde não há quaisquer condições de saneamento, água encanada, alimentação. Sua vida é uma droga! Pra piorar, a AIDS - sim, ela ainda existe! - está consumindo sua família e você não tem o que fazer. Numa bela noite, assim como todo casal normal, você e sua mulher acabam por chegar lá, sem qualquer proteção, e têm um filho. E esse filho nasce normal, mas possivelmente aidético. Bom, de qualquer modo, sua vida é muito difícil e a criança já nasce em condições precárias. Dolorido! Sofredor! Mas, tudo bem. Você leva a vida como dá. Porém, do outro lado do mundo, algum ser-humano desprovido de inteligência, cuja maior forma de protesto é postar frases de efeito em redes-sociais, comendo Fandangos e tomando Coca-cola no computador, embaixo de um ar-condicionado, pega uma foto sua ou de seu filho, tirada por algum fotógrafo que esteve em sua terra, não faz a mínima ideia do seu nome, idade, nem mesmo do que vocês tem passado e de como anseiam por sua ajuda, e consola seu sofrimento - que às vezes é a dor da unha encravada no pé - olhando para sua vida e declarando abertamente: "Eu sou um miserável sofredor, mas você é muito mais.... Ufa... Vou tomar minha Coca-cola". CALEM A BOCA!
Isso me irrita! Sério. Imagine! Consolar o meu sofrimento no dos outros! Saber que eles sofrem mais, que estão na m****, e que não tem qualquer perspectiva de vida, e assim chegar à conclusão de que você não deve reclamar ou julgar estar sofrendo. Isso é ridículo! Todos sofremos! Todos temos perdas e dores. Seja aqui, seja na África, seja onde for! O sofrimento é pessoal; cada um o sente de seu jeito e o encara da sua forma. Não devemos comparar o de um e de outro. Ainda mais se for de alguém que não conhecemos, cuja foto nos deixa comovidos! Isso é tornar esse ser-humano um indigno! É cuspir em seu rosto e dizer abertamente que vivemos uma vida medíocre, amando o nosso próprio estômago, que não estamos nem aí para ele! Que as ONGs se virem! Que a ONU resolva os problemas da humanidade, enquanto eu me mantenho feliz por saber que alguém está pior que eu! Cara, somos terríveis, ruins, podres!
É... no fim das contas, todo o texto que escrevo, o primeiro leitor sou eu. E em todos eles, a mensagem é primariamente a mim. A hipocrisia sonda o meu coração todos os dias. A inveja, egoísmo. O orgulho e a soberba estão lá. Mas que Deus tenha compaixão de nós e nos ajude a enxergar a realidade. Que Ele nos ajude a ver o mundo como ele realmente é. Que não façamos como o fariseu fez com o publicano. A nossa felicidade ou infelicidade não deve ser medida nos outros. Meça-a no seu próprio coração, na sua consciência. E digo isso para mim, com todas as letras. Que eu possa ser um retrato de Jesus, pois tudo que Ele ensinou ainda vale, e tem valido cada vez mais.


