quinta-feira, 8 de março de 2012

O Estado é laico, não anticristão

A militância anticristã está em festa. Solta foguetes nas redes sociais. O Tribunal de Justiça gaúcho, acatando pedido da Liga Brasileira de Lésbicas, mandou retirar crucifixos dos seus prédios. A decisão busca justificativa na laicidade do Estado. Todavia, estamos diante de um fenômeno cada vez mais recorrente: a cristofobia ou a crucifixofobia.

Senão, por que tanta implicância com a imagem do Cristo crucificado? Por que incomoda a ponto de virar prioridade do Tribunal? Que inibição pode causar sobre aqueles senhores da lei? E sobre as partes?

Transformar a retirada de crucifixos em uma causa existencial é típico preconceito disfarçado de pluralidade. Tendências semelhantes estiveram na gênese dos regimes mais abomináveis que existiram. Quando essa porteira se abre, por ela passam muitas outras medidas inibidoras da riqueza religiosa – histórica e cultural – da população, sempre com um disfarce bem costurado ao politicamente correto.

É a mesma vertente que quer restringir o exercício da fé apenas e tão somente ao interior dos templos, bem escondido – como se fosse uma debilidade mental perniciosa à “sociedade racional”.

Exatamente porque o Estado é laico, que os crucifixos não deveriam ser retirados. Porque laicidade significa respeitar a livre fruição religiosa. Note-se que há uma carga de ativa negação na decisão dos magistrados, algo que gera clara mensagem pública.

Ora, os crucifixos já estão ali, por decorrência histórica e social, sem que uma lei obrigasse a isso. Não há ofensa, inibição ou ferimento da crença alheia. Agora, porém, com esse ativismo destrutivo, o Estado manda derrubá-los – e, aí sim, fere a Constituição e desrespeita o Cristo, em símbolo, no qual 90% da população brasileira tem fé.

É um precedente para o perigoso dirigismo estatal sobre as manifestações religiosas do povo. Ao deus-Estado se delega o direito de decidir, até mesmo, sobre o que, onde e como exercer a religião.

O Estado é laico, não anticristão, não ateu. Ou também vão mandar derrubar a deusa Themis do Palácio da Justiça? E não devemos mais ceder ruas e praças para procissões de Nossa Senhora ou Iemanjá? E as esquinas devem ser proibidas ao candomblé? Como chamaremos Santa Cruz e Santa Maria? E o que farão com os crucifixos retirados: serão colocados no lixo ou incinerados?

No lugar de Cristo, eis que agora as paredes da Justiça gaúcha terão um branco, um vazio. Não é possível disfarçar o que está evidente: isso não é laicidade, é ateísmo anticristão mesmo – uma ditadura cultural que avança a passos largos em nossos dias. Já levava consigo uma montoeira de inocentes úteis. Agora seduz também doutores bem formados.

*Cleber Benvegnú é advogado e jornalista.
Artigo publicado na edição impressa do jornal Zero Hora de hoje, página 15.

Nota: Acredito que o texto redigido por Benvegnú tem uma essência de realidade e outra de abstração. Por um lado, concordo com o fato de que a laicidade do Estado, ou seja, o secularismo do mesmo, não atrelado a qualquer manifestação religiosa, não determina o uso ou não de crucifixos nos locais de ordem pública. Concordo com as entrelinhas de imparcialidade denunciadas pelo autor, uma vez que temos uma enorme estátua de Nossa Senhora na entrada de Farroupilha, em um ambiente público, estatal, praticamente declarando serem todos seus habitantes seguidores da religião que reverencia esse tipo de manifestação. Entretanto, devo concordar também que ao Estado é delegado o direito de decidir onde exercer a religião, isto é, se seus atuantes concordam com tal prática, tudo bem. Por outro lado, tornando ao assunto da santa, entramos na abstração. Parece-me muito bonito permitir a manifestação religiosa onde quer que seja, inclusive em locais públicos como é o caso do texto, contudo devo admitir que me sinto um pouco incomodado com a estátua de Nossa Senhora e com tantas outras semelhantes. Não que seja contra a crença dos Católicos e seguidores fiéis, mas se o Estado é laico como deveria ser, tais práticas deveriam ser abolidas em sua totalidade, sem parcialidade. Se um grupo de lésbicas ou LGBT, que seja, tem poder de retirar uma cruz, quanto mais laico deveria ser o Estado em admitir estar interferindo, mesmo sem querer, na crença das demais religiões. Se, por exemplo, na entrada de Bento Gonçalves houvesse uma estátua de Buda gigante, duvido que a comunidade cristã (católicos e protestantes) não se manifestaria. Eu mesmo ficaria indignado. Porém, sem parcialidades, a Lei se aplica a ambos os casos. Ou retiramos os crucifixos, estátuas, e demais manifestações religiosas dos ambientes públicos, ou calamo-nos e seguimos com nossa crença em silêncio, aceitando uma parcialidade comum que o Estado brasileiro e, quiçá, mundial, nos impõe. 

quarta-feira, 7 de março de 2012

Uma família


Uma grande família! Eu tenho uma. Desajeitados, engraçados, tímidos, gordos, magros, gritalhões, brigões, pacíficos, velhos, novos. Todos esses tipos eu conheço: tenho todos na minha grande família! Não é uma perfeita família, mas é uma unida família. Não deve ser a melhor do mundo, mas é a minha melhor família. É uma família que é grande, exatamente por não criar barreiras entre parentescos. Quero dizer que o primo não deixa de falar com o tio, o irmão não deixa de conversar com a irmã, a cunhada é muito amiga da tia, e assim por diante. Não digo que não haja discórdias; há, e muitas! Mas se convive na discórdia, e a isso chamo amor. É uma família simples, de pessoas normais, imperfeitas, cheias de defeitos, mas que se gostam e estimam. Não é uma família que se reúne apenas em festas devidas ao sobrenome, ou em casamentos, ou mesmo em velórios - grande razão da reunião de muita parentada. Não é só nos momentos bons, nem apenas nos ruins. É sempre. Sempre que dá, a família está unida. Uma frequência incomum, um amor incomum. Chegam a nos questionar e indagar, "sua família é muito unida! Difícil ver algo semelhante". Volto a dizer, as discórdias existem, as brigas e confusões também. Mas ninguém tá de mal com o outro, e gostamos do jeito "murrinha", ou "metido", ou "tímido", ou "pacifista" de todos. É nessa mistura de características, que nos damos bem. É claro que não poderíamos morar juntos durante longos períodos, afinal casamento é um só e me parece que já é difícil conviver com uma pessoa diferente, quanto mais muitas outras! Mas a família é isso, é apoio e suporte nos momentos certos e errados, não um matrimônio. É motivo de alegria aos finais de semana e deliciosos almoços e jantares caprichados pelos cozinheiros e cozinheiras oficiais. São aqueles domingos de aniversários onde fazemos de tudo para estar presentes. É durante aquela enfermidade, em que investimos alguns de nossos poucos trocados para estar próximo, e usamos o nosso tempo para ser um anjo auxiliador, na vontade de poder doar um pedaço nosso. É naquelas noites frias de Julho, onde viramos as noites assistindo filmes e dando risadas. Uma família que acima de tudo entrega a Deus seu alimento e suas posses, na ciência de não ter nada além disso; uma família que proporciona incríveis momentos que não podem ser apagados.