Dia entra, dia sai. Trabalho, estudos e muito dinheiro nos aguardam no final das contas. Será, mesmo? A nossa vida tem um vai e vem complicado e seguidamente temos que enfrentar as dificuldades que ela nos fornece. Embora seja abstrato pensar assim, sabemos que a vida não existe em si mesma. Ela está dentro de nós e essa definição é um tanto quanto difícil. Mas o dia-a-dia nos mostra que ela, seja quem for, nos reserva as mais inesperadas surpresas. Como dizem, "a vida é uma caixinha de surpresas".
E estudamos, trabalhamos. Nos esforçamos e corremos atrás. Ah, quão bons eram os dias da infância, diz o outro. Mas não basta estudar! Tem que estudar, e muito! Além do Ensino Médio, temos que ingressar na Universidade. Achando que é o suficiente, nossos mestres nos dizem: especialize-se. E lá vamos nós, nos intercâmbios, cruzando o planeta, nos congressos, pós-graduações, mestrados, doutorados. Será ainda o suficiente? Não. E não basta estudar tudo isso, tem que trabalhar, formar uma família, ser exemplo, "fazer o bem", ir à igreja, ser legal, bacana, paciente... Ou seja, em resumo, temos que dar além do nosso melhor. Temos de ser excepcionais! A comida é cada vez mais "rápida" e menos saudável, o almoço em família deixa de existir para dar lugar a conversas monótonas e sem graça, muitas vezes dividindo espaço com smartphones e trabucos desse tipo.
A vida é corrida. Ela não para e simplesmente nos deixa malucos! E eu, como estudante de intercâmbio, vejo que ela realmente não "dá mole"! Se eu vacilar, ela passa por cima! Entretanto, vagamente, lembro-me dos dias de abraços e beijos. Almoços e jantas. Hoje não mais tomam seu lugar. A distância tratou de removê-los, até mesmo da minha memória a curto prazo. Mas, ao fitar o espelho e reparar no cabelo curto e no bigode ridículo que carrego devido ao desafio proposto por amigos, torna-se impossível não relembrar as inúmeras vezes que cheguei em casa e encarei o olhar da minha vó: "tá bonito!", "tá muito curto!", ou então, quando a coisa era séria, "Leonardo?!". O que me deixava contente era a sinceridade e a espontaneidade das afirmações. O que tenho hoje é um grilo que não tem opinião sobre o corte.
Não apenas a mais velha das duas. A mais nova também. Mas a mais nova costumava dizer, enfaticamente, talvez por ser a mãe e querer proteger o filhote: "Que nada, ficou lindo". Aquilo bastava, era o suficiente para eu ganhar o dia. E, sabe o que? Eu sinto falta disso. Estudamos, trabalhamos, viajamos. Mas trocaria a inúmera variedade de refeições que o restaurante universitário me proporciona, por um simples prato de arroz e bife da minha vó. "Ah.... a comida da vovó". Não é fácil esquecer e nunca será. Mesmo quando nos apartarmos na despedida temporária, lembrarei com todo o carinho dos inúmeros almoços e jantas feitos com amor pela pessoa maravilhosa.
É, a vida não é fácil. Como diria um amigo: "a vida é amarga". E realmente, mostra-se amarga em muitas faces. Nem sempre é assim. Conseguimos mascarar com um pouco de açúcar, aqui e ali. Mesmo amarga, é bela e agradeço a Deus por ela. Trabalho, estudos e dinheiro, tudo passa. O que não passa é a vontade de deliciar mais uma vez a comida da vovó. Essa, meus amigos, a gente nunca esquece.